Coloco duas premissas básicas: a primeira afirma que os conhecimentos são naturais, estão inscritos nos genes de maneira básica e apenas se revelam ao sabor das experiências de vida. A segunda acredita que temos, à partida, apenas possibilidades de aprendizagens, de forma que o conhecimento é construído nas relações com o mundo natural e social. O que escreverei a seguir apoia-se na segunda. Portanto, a sociedade que somos é fruto, inevitavelmente, da educação que todos recebemos, em suas diversas formas: família, grupos de amigos, escolas, igrejas, meios de comunicação etc. De maneira geral afirmamos com frequência nosso desagrado com os rumos que tomou a sociedade humana, embora façamos parte ativa nela. Clamamos contra as injustiças, contra a violência, contra a política e por aí afora. Para ficar em apenas um aspecto da educação, porém, muito importante, vamos criticar a escola formal. A base da escola formal são os conteúdos científicos e a disciplina moral. A palavra NÃO é o mote da disciplina moral. E a matemática, a geografia, a história, a física, a química etc., são o mote da educação científica. Podemos dizer, a partir disso que essa maneira de educar é equivocada. Provavelmente é equivocada em três aspectos: peca quando coloca as disciplinas científicas como protagonistas da educação, peca quando incute uma moral de heteronomia nos alunos, afastando as possibilidades de uma moral autônoma, e peca no método, porquanto torna o aluno passivo, ao sabor dos conhecimentos e da moral que vem de fora. O resultado é uma educação de reprodução, isto é, de reprodução daquilo que criticamos todos os dias na sociedade.
A solução? É complexa. Nada se resolve em sociedade com meia dúzia de palavras. Mas para apontar algumas medidas, uma delas seria inverter os procedimentos da base educacional escolar. Nós adultos não temos moral para ensinar aos nossos alunos. Fizemos várias guerras, somos gananciosos, produzimos o neoliberalismo selvagem, somos, em vários aspectos, covardes e nos corrompemos com extrema facilidade. Os alunos teriam que participar dos projetos de sociedade, portanto, de seu futuro nela. Outro ponto: as disciplinas científicas teriam que deixar o protagonismo e assumirem ser apenas coadjuvantes. O protagonismo deveria ficar com os grandes temas da vida como saúde, relações humanas, ecologia, autoconhecimento, amor, ética etc. Por último, o método. Nenhum aluno deveria receber conhecimentos prontos. Eles precisam ser produzidos a partir de pesquisas, de construções. Os conhecimentos deveriam partir daquilo que cada aluno é, para crescerem. Os conhecimentos precisariam crescer a partir de uma orientação ética, uma ética de preservação da vida.
Enfim, se somos o que somos, é porque assim nos educamos. Se queremos que a sociedade seja diferente, a educação tem que se diferente. E não há nada mais conservador que a educação formal.
Fonte: Blog do João Freire
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