Muito antes de ensinar crianças a ler e escrever, escola e
família devem estar preparados para lidar com uma série de outras necessidades
que vão garantir que o aluno se desenvolva plenamente durante os anos
seguintes. Voltada a crianças de zero a seis anos, a Educação Infantil é uma
obrigação do Estado, mas inserir ou não a criança no ambiente escolar durante
essa etapa é uma escolha da família. Especialistas afirmam que as diretrizes
pedagógicas estão melhorando a qualidade do ensino, mas a área ainda apresenta
carências.
Segundo
a diretora da Divisão de Educação Infantil e Complementar (DEdiC) da Unicamp,
Roberta Borges, a escola precisa prestar atenção às necessidades das crianças
nesta etapa, que diferem dos alunos mais velhos. "A educação infantil
esbarra na formação do professor e na organização de espaços. O professor
realmente preparado deve realizar um trabalho voltado ao desenvolvimento da
criança, e não apenas adaptar aquilo que é proposto aos estudantes
maiores", diz.
De
acordo com Roberta - também organizadora do 2º Fórum Internacional de Educação
Infantil, realizado em novembro -, a Educação Infantil deve voltar-se às
habilidades cognitivas sem deixar de lado o desenvolvimento afetivo e físico.
"É preciso ensinar valores, regras, limites, como se relacionar bem com o
outro. Esses pontos não recebem muita atenção das escolas. O físico também é
muito importante. Ela deve aprender a cuidar do corpo, se alimentar de maneira
saudável, ter uma rotina, se trocar", exemplifica. Segundo a professora, o
desenvolvimento nos primeiros anos de escola - principalmente entre zero e três
anos - é essencial para a formação posterior. "As experiências devem ser
mais pausadas, para que ela realmente compreenda aquilo que está acontecendo e
se desenvolva de acordo com sua faixa etária", diz.
As
Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil, que contemplam normas
de credenciamento e indicadores de qualidade, são responsáveis por regulamentar
creche, frequentada de zero a três anos, e pré-escola, que antecede o Ensino
Fundamental. Segundo a presidente da Organização Mundial para Educação
Pré-Escolar de São Paulo (Omep/SP), Vera Miles, nessas duas etapas, a
preocupação está voltada ao desenvolvimento pessoal, estimulando atividades
lúdicas, a linguagem artística e oral, além de jogos simbólicos. "É uma
fase para brincar. Os alunos são desafiados a resolver conflitos, cooperar e se
relacionar", diz.
De
acordo com a professora, a Educação Infantil tem avançado muito em relação a
legislação, diretrizes e propostas pedagógicas, que tem o objetivo de garantir
um ambiente adequado e seguro. Mesmo assim, garante, um dos maiores problemas
está ligado à falta de preparo dos educadores. "Esses professores não
sabem trabalhar com a família, com a comunidade, e isso reflete no espaço em que
a criança passa a maior parte do tempo", afirma. A especialista também
aponta problemas nos ambientes aos quais os alunos são expostos. "As
instituições têm pouco material estimulante, poucos equipamentos adequados e
hoje está sujeita a se tornar muito acadêmica. Isso porque os professores não
tem uma visão prática das atividades que devem realizar em sala de aula",
sugere.
Mudança na idade mínima gerou polêmica
Recentemente, uma mudança na idade mínima para frequentar o
ensino fundamental também gerou polêmica entre especialistas. Anteriormente, a
idade para cursar a 1ª série era de sete anos. Com a nova lei, crianças que
completam seis anos até 31 de março estão aptas a cursar o 1º ano - que surgiu
para servir de ponte entre as duas etapas. "A entrada no Ensino
Fundamental aos seis anos preocupa porque os professores não estão preparados
para lidar com esses alunos, que requerem uma metodologia diferente. A criança
vai para o 1º ano e passa a ficar a maior parte do tempo sentada, seus pezinhos
não alcançam o chão. Só que ela deveria estar brincando, já que a vivência deve
ser a base desses primeiros anos", pontua.
A
professora Roberta chama a atenção para a adequação do 1º ano de Ensino
Fundamental. Segundo ela, é preciso dar continuidade ao trabalho que teve
início nos anos anteriores. "Nessa faixa etária, não dá para avançar o
conteúdo. É importante que ela continue construindo um raciocínio próprio de
sua idade, que tenha, sim, atividades de leitura e escrita, mas que não haja
uma antecipação dos conteúdos. Forçar uma evolução fora das possibilidades de
sua faixa significaria um retrocesso", alerta.
Por
outro lado, a especialista aponta aspectos positivos na alteração: "A
educação infantil não é obrigatória, mas o ensino fundamental é, e essa mudança
faz com que todas as crianças ganhem um ano a mais de desenvolvimento." A
nova resolução aponta que, agora, os conteúdos do 2º ano equivalem à 1ª série
de antigamente, permitindo que o aluno passe por um ano de adaptação a uma
estrutura de ensino diferente daquela a que estava acostumada.
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