Conceitos de treinamento desportivo
Para
Dantas (2003, p. 28), "[...] é conjunto de procedimentos e meios
utilizados para se conduzir um atleta a sua plenitude física, técnica e
psicológica dentro de um planejamento racional, visando executar uma
performance máxima num período determinado".
Segundo Mantivéiev
(1986, p. 32), "[...] é a forma básica de preparação do atleta. É a
preparação sistematicamente organizada por meio de exercícios que de
facto constitui um processo pedagogicamente estruturado de condução de
desenvolvimento do atleta [...]".
A explicação de treinamento
desportivo de Weineck "[...] sugere a definição de 'treinamento
esportivo' como sendo o processo ativo complexo regular planificado e
orientado para melhoria do aproveitamento e desempenho esportivo"
(CARL, apud WEINECK 1999, p. 10).
Reflexão sobre treinamento desportivo
Segundo Perez (2000), entende-se por treinamento um processo composto por várias etapas, que se inicia sempre da mais simples para a mais complexa, até chegar à especialização, que visa à melhoria de algo, sendo essa uma característica nata dos seres humanos.
O ato de treinar, que tem como sentido/significado tornar apto ou adestrado, não se restringe somente aos atletas, mas também está ligado a outros animais, nem está unicamente associado ao esporte, pois, quando o objetivo é perda de peso por uma prática de atividade física, ocorre um treinamento.
Aproveitamos para fazer analogias aos conceitos
dos autores supracitados, no que tange às questões de
"treinamento/adestramento" no processo educacional, não somente na
disciplina da Educação Física, mas de forma geral.
É preciso
observar que o "adestramento" das pessoas se inicia quando ingressam,
desde cedo, na instituição educacional, que respeita as "leis" do
sistema vigente. Há de se convir que esse sistema trouxe vários
benefícios para sociedade. Contudo, na sociedade, somos todos
"adestrados" a sobrevivermos nela. O interessante é justamente saber
interpretar o que está escrito nas entrelinhas do processo de ensino e
uma das formas de se aprender como interpretar é justamente, por pura
ironia, dentro das escolas, atuando com professores que saibam utilizar
metodologias pedagógicas que fomentem a dialética entre os alunos, de
forma a fazê-los compreender como funciona esse sistema, pois, assim,
poderá haver um processo de melhoria gradual de convivência.
No
entanto, para além da escola, há interesses escusos de pequenos
grupos que controlam grandes empresas que investem intensamente na
ciência do esporte.
As grandes empresas envolvidas no meio
esportivo visualizaram o extraordinário vínculo da cultura do esporte
em determinados países, como a Nike enxergou no Brasil (o país do
futebol) e fatura enormes cifras com o patrocínio da Seleção
Brasileira, tendo o direito de fazer que o Brasil realize amistosos
com quem ela quiser. É só reparar que os amistosos são sempre contra
seleções sem tradição no esporte bretão, como foi o caso do amistoso
contra o Haiti com o pretexto de parar a guerra por um momento, mas,
na verdade, havia interesses escusos ali envolvidos, como possibilitar
sempre a abertura de mais um novo mercado consumidor para seus
produtos relacionados com o futebol.
Segundo Perez (2000),
atletas são indivíduos que visam a um rendimento máximo e participam
de competições. Podem ser divididos em três grupos: os de alto nível,
os de nível regular e de nível fraco. Há de se concordar com o autor,
que as regras e os valores da competição são socialmente construídos.
Existem exemplos notórios dentro da própria Educação Física escolar,
na qual os mais habilidosos são sempre os primeiros a serem
escolhidos, ocorrendo o contrário com os que não possuem determinadas
destrezas coniventes com a atividade, impostas como essenciais. É
função de um bom educador físico fazer com que seus alunos saibam
interpretar criticamente essa inversão de valores.
Há também os
não-atletas que, de acordo com Perez (2000), podem participar de
competições, porém com objetivos mais ligados à saúde e ao prazer do
que ao alto rendimento. Esses objetivos também são impostos pelo
sistema vigente, que prega que as pessoas tenham o corpo em forma
(fôrma), pois, quanto melhores se sentirem, mais produzirão. O conceito
de pessoa bela (estereotipado) é a todo momento colocado na mídia como
o ideal a se seguir, usando os atletas que passam por todo um
processo de treinamento desportivo.
Considerações finais
Há
de se convir que empregar, nas aulas de Educação Física escolar, os
conceitos de treinamento desportivo é um tanto complicado, tendo em
vista todos os problemas de enorme disparidade social encontrados no
Brasil.
Como usar esses conceitos ou até mesmo os princípios do
treinamento (princípios da adaptação, da sobrecarga, da
individualidade biológica, entre outros) numa escola onde há crianças
com desnutrição chegando ao extremo de algumas delas terem uma
refeição apenas e, muitas vezes, é justamente a refeição dada na
escola? Sem uma perfeita alimentação, é impossível conduzir um
"aluno/atleta" a uma plenitude na condição física ou técnica. E,
ainda, como uma criança atingirá plenitude psicológico se, na
periferia onde mora, há tiroteios entre traficantes disputando a venda
de drogas ou até mesmo dentro da própria casa ela assiste à violência
entre os familiares por motivos vários como de dependência química?
Além disso, vale lembrar as péssimas condições que os professores de Educação Física encontram, como se pode observar em escolas onde as aulas são dadas em chão batido, propiciando oportunidades de os alunos se machucarem ou, ainda, escolas sem um mínimo de espaços para que ocorram as aulas de Educação Física, além da falta de materiais. Muitas vezes, o próprio profissional se vê na "obrigação" de comprar pelo menos uma bola para possibilitar uma vivência aos seus alunos.
Obs. Os autores Bruno Vasconcellos Silva (bvasconcellos1983@hotmail.com) e Alinne Ferreira Bastos (alinnefb@hotmail.com) são acadêmicos do CEFD-UFES.
Referências
- 1 Dantas, E. H. M. A prática da preparação física. 5. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
- 2 Daolio, J. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2004.
- 3 Mantivéiev. C. P. Horizontes da cultura física fundamentos do treino desportivo. Lisboa: Livros Horizontes. LDA, 1986.
- 4 Metodologia do Ensino da Educação Física/Coletivo de Autores. São Paulo: Cortez, 1992.
- 5 Revista Brasileira de Ciência do Esporte. Quem são os atletas e os não-atletas no processo de treinamento? PEREZ, A. J. p. 129 a 132, jan./maio 2000.
- 6 Weineck. J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. São Paulo: Manole, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário