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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

COMO EXPLORAR JOGOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALÉM DA RECREAÇÃO


Nunca gostei das aulas de Educação Física. Não entendia por que os professores insistiam em propor exercícios repetitivos e também não queria expor minha notória falta de coordenação motora perante toda a classe. Como eu, muitos fogem das aulas dessa disciplina. "Tinha pavor de basquete. A cesta, muito alta, sempre me deixava envergonhado nas aulas." Com essa frase, Everaldo Cortes do Carmo, formador de professores do Instituto Esporte e Educação, em São Paulo, começou uma capacitação...
gratuita oferecida pela Caravana da Educação -- evento que percorre o país ensinando a professores que a ideia de jogo vai além do trivial "um time de cada lado e uma bola". Desde 2005, o projeto já formou mais de 10 mil educadores, em vários estados. O objetivo da ação é rever conceitos da Educação Física, que ainda privilegia, muitas vezes, a recreação e a cobrança pelo rendimento, em detrimento da valorização de produções de nossa cultura corporal, como os jogos.

À primeira vista, eles são atividades simples, que não precisam ser ensinadas. Mas, logo no início da formação a que assisti, na capital paulista, os educadores perceberam que eles são mais que um mero passatempo. "Ao jogar, as pessoas têm a possibilidade de montar estratégias, desenvolver um trabalho coletivo e treinar técnicas de modalidades esportivas sem realizar treinos intensivos, além de poderem contar com a colaboração de todos, sejam eles baixos, gordos ou com alguma deficiência", disse Everaldo. 

Os professores começaram tímidos, mas bastou chegar a hora da prática para se soltarem. Em grupos montados de maneira aleatória, para promover a interação, os participantes treinaram arremesso durante alguns minutos. Quase em silêncio, se comunicavam apenas quando alguém errava o lance. Logo que passaram à atividade seguinte, um jogo denominado "derruba pino", a interação entre eles mudou. Assim, puderam comparar as diferenças entre ele e um treino repetitivo. Durante a partida, os professores se mobilizavam, criavam táticas para alcançar um objetivo comum e participavam de rodas de conversa. Essenciais para a compreensão do que havia sido feito, elas geravam novas regras, mudanças no time e estratégias diferenciadas sem deixar de lado um dos elementos essenciais do jogo: a imprevisibilidade que proporciona a participação de todos. 

Não foi só no espaço da quadra que os professores aprenderam. Também em sala, durante a capacitação teórica, eles perceberam que é possível lidar com situações adversas -- como a falta de espaço na escola, por exemplo -- sem perder a oportunidade de usar o jogo como um recurso para a aprendizagem. Num vôlei adaptado, em que a fita adesiva fazia as vezes de rede e bexigas eram usadas como bolas, eles compreenderam que dá para ensinar fundamentos de práticas esportivas à turma com base nesse tipo de estratégia. "O esporte não pode ser trabalhado apenas como técnica. Também é preciso entender o processo de aprendizagem e ensinar valores como a participação e a cooperação", explicou Everaldo. 

No fim da formação, que durou dois dias, os professores saíram conversando entre si sobre o que mudariam quando voltassem à escola - e a opinião era unânime. Treinos repetitivos, aulas sem supervisão e alunos escapulindo para não participar - como eu tanto fiz - seriam práticas extintas em suas turmas.

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